Jornal FUGIFALA

Edição Especial

Domingo, 8 de Junho de 2025

«Meninos de Príncipe» à minha Mãe San Mosa

Mãe! Um passo de cada vez e sem atropelar ninguém, nem encostar ao Estado para ver satisfeito algum propósito do próprio umbigo, vou desbravando o caminho da Trindade até a cidade “d’alê”.

Nisto, usando das prerrogativas administrativas, o prazo para que chegue a tão esperada resolução ao recurso interposto pelo direito de ser filho de uma das Mães, Ambrósia ou Bebiana, nascidas em 1933 e 1929, parece ter os dias contados.
Enquanto isso -, não há como cruzar os braços -, são documentos que vão dando forma ao processo de pertença, pelo que, aguardo o dia da audiência para estar presente com as testemunhas que hão de aclarar a existência da verdadeira Mãe.

Evento FNAC

Oh Mãe! O que fazer? Assim como o tempo da justiça, vagaroso, é-me exigido muita paciência para aturar a administração pública, décadas em reformas que desacreditam o Estado, a completar no próximo mês, os cinquenta anos, meio século, de conquistas e derrotas.
Mãe! Uma oportuna e merecida palavra aos seus “sobrinhos” Torres, representados pela nossa querida Anabela Rodrigues, Clara Cunha e a filha, Patrícia Raposo, na apresentação do livro, no Centro Comercial Vasco da Gama. Apresento às três Torres, à família e aos familiares do nacionalista Gastão d’Alva Torres, falecido no final de maio, as mais sentidas condolências.

“Ellyzé – Autópsia da Alma” - Vasco da Gama

Mãe! “Ellyzé – Autópsia da Alma” e todos quantos, o livro notabilizou vida eterna, um cruzeiro cheio de nomes nacionais e estrangeiros, como previsto, regressou a Lisboa, no dia 30 de maio, passado, agora a pedido da Dinalivro, que em pleno Centro Comercial de Vasco da Gama, a distribuidora preparou o tapete vermelho da livraria FNAC, por onde não faltou crítica literária à obra.

 Hélio Bandeira, Cláudio Ramos, autor Dias Cardoso e Manuel Bernardo

Deste jeito, como ditam as regras de convivência humana, registo aqui os agradecimentos aos presentes, leitores, amigos, colegas e familiares; à Téla Nón; RDP-África, nas pessoas dos jornalistas Jerónimo Moniz e David Jochua; à FNAC, através da Catarina, e às apresentadoras, Paula Amaro, diretora da Dinalivro, Cláudia Costa, a socióloga, dizem, de tirar chapéu aos homens e Ilsy d’Alva, a diretora editorial da Pena Real.


Ao professor e poeta Manuel Bernardo, o autor do brilhante livro de poesias “Inquietações”, à minha conselheira, Anastácia Rodrigues “Xaxá”, e às minhas filhas, Lene e Ryka, as respetivas, repórter de imagem e jornalista, por um dia, palavras para quê?
À Betinha, a minha esposa e mãe da Ellyzé, por pressão profissional, ficou em terra francesa, a rugir pela viagem da família, diferente do Kleyv, o filho ocupado por outras razões, os repetitivos agradecimentos.
Uma especial gratidão à presença do arquiteto das universidades, em São Tomé e Príncipe, Liberato Moniz. Como que o autor pressentisse o brinde, das cábulas para FNAC, reforcei de que, «A pequenez de um país, não deveria ser dimensionada pela cabeça grande dos seus governantes, mas também a sua grandiosidade, jamais será projetada perante o gemido da grande cabeça dos seus escritores.» mas sim, por ações concretas para que o betão da História, jamais possa ser rasurado por faz-de -conta de sanguessugas, em contra-mão do horizonte dos são-tomenses.
Oh Mãe! Nesta edição, mais um cheirinho de uma das gavetas do livro que se encontra disponível nas lojas da FNAC e desde o dia 4, até 22 do mês, em curso, pode ser adquirido na 95ª Feira do Livro de Lisboa, no Parque Eduardo VII, junto ao Marquês de Pombal.

Autor autografando o livro para a Paula Amaro, diretora da Dinalivro

Meninos de Príncipe

« - Filhos jamais são nossos. Veem do outro mundo com destino traçado para hora certa. Um dia, no retorno do caminho ao além, largam tudo.
Toda sala do velório, em Blackiére, afinou os ouvidos. «Não se chora a morte!?» Deve-se festejar a partida de entes queridos e, na troca, lacrimejar o nascimento. Nas ilhas do Equador, sustenta-se no estímulo de que a morte põe fim ao compromisso com a vida familiar. O nascimento é um enigma indecifrável.
- Quando eu era moça, na ilha do Príncipe, narrava-se sobre as canoas que, ocasionalmente, desembarcavam junto à praia, seres estranhos do tamanho de uma mão. Em brincadeiras dispersas, perdiam-se pelas belezas das praias.

Evento FNAC

A profundeza da fraqueza soterrada no lago da melancolia era tão exposta que na noite dominical em que tentávamos, sem êxito, juntar pedaços soltos de compreender, o mínimo, buscando ar no fundo dos pulmões para nos libertarmos do sofá de julgamento social, aportaram-se na sala do velório francês, os meninos de Príncipe.
Desviei-me do momento apaziguador para com a morte da filha, imposto pela cronista Beny, a mais velha na região.
Viajei até ao infinito universo, ao colo de extraterrestres, aqui e acolá, sem imaginar que naves de OVNIs tivessem também aportado ao meio do mundo.

Ilsy d'Alva, Dias Cardoso, Cláudia Costa e Paula Amaro

- Quando se reuniam para deixar a praia, na embarcação, desaparecendo no horizonte, cada um partilhava o tempo que iria permanecer junto dos seus pais, familiares e amigos. Uns haveriam de enganar a mãe, o pai e, todo mundo que mais lhes tivesse amor; desde curtas horas, após a saída do ventre, até dias, semanas e anos. Uns haveriam de nascer sem vida. Um ou outro declarante garantia passar dos cem anos. Os pré-nascidos abundavam as barrigas de parturientes pelo mundo inteiro para acertarem no tempo, lá no Príncipe. Foi um pescador a caminho da faina madrugadora que, às escondidas, assistiu e passou de boca em boca, lá na ilha da sua avó Maria Preta. Tua filha teria assumido, nessa conferência de gente pré-nascida, que partiria aos vinte e seis anos. Assim que completasse, de seguida, viajaria sem abraços de aniversário. É isso, meu filho! Ponha tudo nas mãos de Deus! Deixe a menina viajar, tranquilamente, no seu destino ao além. Pare de chorar a vossa filha!

Dias Cardoso acompanhado de familiares

Afónico, as lágrimas deslizaram-me pela face abaixo. «Um príncipe do Príncipe, pescador, teria avistado um grupo de alienígenas do qual, volvidos anos, Ellyzé, viria fazer parte?»
A Beny, jovem emboscada pelo rapaz de olhos de gato, décadas atrás, para florescer Kriole – nome familiar do seu filho, Pascoal – brindou os olhos embriagados em lágrimas de auto-mutilação, a explodir a cabeça com permanência da tropa ao redor do choro, dos copos e talheres para cumprir a tradição, esquecida, da comemoração do descobrimento da ilha pelos navegadores portugueses, no dia 17 de janeiro, do ano de 1471.

Dias Cardoso na companhia de leitores e amigos

Os são-tomenses, na autenticidade da psicologia que, eventualmente, haveria de atirar os pais e irmãos da Ellyzé à prisão de um psicológico recomendado por próximos, ao estilo dos ancestrais, festejam a morte com infinitas visitas, rezas, contos, jogos, pratos e copos para fabricar sentimento de aceitação da partida dos entes queridos.
O batuque atrofiava o amanhecer com lembranças de finais dos anos oitenta e início dos noventa, nos primórdios da democracia, em que pouco a pouco, a música africana empoleirada no patamar, fora ensombrada pelas antilhanas; remonta ao período do associativismo juvenil da Trindade, corroborado pelo colega Ené, em que a Ellyzé, bebé, era mascote. Quase linear ao ditado popular «tudo que é bom, não resiste ao tempo», o grupo infantil-adolescente, Totôbi, foi sol de pouca dura. Em obediência ao sal e à malagueta da língua, não obstante a criatividade atrevida em 1992, exibir no magnífico palco do Palácio de Congressos – que relegou o de cinema Marcelo da Veiga ao abandono – com abanar de saia da Lambada, pernas de ússua e canção de stleva do lendário Cornélio, a profecia não transitou para além da Gravana.

Sessão perguntas e respostas entre o público e o autor

- É para isso que você fica encarcerado? A morte não deve ser esquecida na vida; mas, se sabe que não resiste a lágrimas, deixa de inundar a casa com o som da tua filha!
Dei olhar vexatório à surpresa da Betinha. «Homem chora!» As cantigas da terra além-mar, que a alma sacudia em completa liberdade de alimentar a consciência, puseram-se num desfile assassino de estoirar os miolos que nem mil rolos de lenços eram insuficientes para enxugar as lágrimas a escorrerem copiosamente da fonte. Letras de canções com dom curativo, mesmo as mais recentes caçadas no YouTube, revelaram-se, repentinamente, não sei como, puras inimigas da dor, a ponto de amarrotar a alegria de desenhar felicidade à vida.
Sem energia para tirar um pé de dança com a Betinha, a pegada da cantiga pescou outra voz à lembrança. Era o suporte aos pais para quebrar a solidão.

Sessão de autógrafos

- Não sei da teimosia de batuque em Grasse. Sacudir poeiras de homens e mulheres? Convite associativo decorrente do crescente, leve leve, dos ilhotas da Provence Alpes – Côte d’Azur, não tem assediado são-tomenses.
Esse intuito de adotarem um dia por ano para despistar negativismo, recolhendo energia positiva em linhas musicais, iguarias e sorteios de fofocas, não entra nos ouvidos da diáspora “azurense”.

Sessão de autógrafos

Meu pai! Basta solicitar audiência com o presidente da Câmara de Grasse, “missiê” Jerôme Viaud, não é? Encosta ao franco-costa-marfinense, “missiê” Cyril Dauphoud, adjunto da presidência, propondo à cidade, geminação com São Tomé e Príncipe.
Assim, João Seria e África Negra, Calema, Tchilôli ou Auto de Floripes com a nossa bandeira poderá, um dia, vir a descongelar os Alpes e aquecer o verão de Grasse.»

In «Ellyzé – Autópsia da Alma».
Do seu filho,
José Maria Cardoso