Autópsia da Alma
Edição ilustrada
Domingo, 13 de Outubro de 2024

Auditório Orlando Ribeiro à minha Mãe San Mosa
Mãe! Cada palavra, parecendo que não, é a luz do amanhecer que se repousa na varanda do pensamento, por vezes, para cobrir a escuridão da noite anterior, onde os sonhos de ter uma Mãe, Bebiana ou Ambrósia, a mesma "sióra" Mosa, da Trindade, - a titular dos dois nomes de batismo, repartindo os filhos, ninguém sabe como, nem o Estado colonial, por cada um - na mágica profundeza do descanso, renovam a temperatura positiva para ultrapassar tempestade à velocidade estrondosa do desespero, da malvadez e do egoísmo por mais que as máscaras pintem, debaixo da língua, com os versículos todos da Divinal Bíblia.
Oh Mãe! Foi, sensivelmente, há um mês que o seu filho, inspirado pela sua neta, numa tarde de silêncio, impar, assaltou a capital portuguesa, completamente anestesiada, para deixar falar o "livro enganador', visão de uma socióloga que garantiu, o escritor, a partir das ilhas do meio do mundo, ter percorrido Universo e História, sempre a exprimir emoção de perda da Ellyzé, de apenas vinte e seis anos, descoberta sem vida, no quarto da cidade de Londres, onde concluía os estudos na faculdade inglesa.
O tempo de Lisboa, quente demais para o mês e sob, o risco permanente no vermelho para incêndios incontroláveis e mortiferos, especialmente, no centro e norte do país, para fechar tarde ao dia 14 de setembro, sábado, similar à noite de "d'jambi", lá na terra, só podia ser, pelas expetativas expressas por todos quantos, desde a editora Pena Real, se envolveram para que o filho de um parto difícil, emocional e ousado, renascesse não de "patéla-téla", médica obstetra ou qualquer outra especialidade científica, numa maternidade, mas tudo teve o seu propósito no Auditório da Biblioteca Orlando Ribeiro, no Lumiar.
Mãe! A plateia, com a sua nora, a Betinha, o pulmão do livro, na primeira fila, recheada de quem me abriu palavras à cabeça, na sala de aulas, no pavilhão do mercado da Trindade e, dos quantos aceitaram o convite e compareceram, enquanto boa gente, os eventuais leitores, em descrença para com o desconhecido, aos quais gritei o anúncio e ofereci exemplares de "Ellyzé - Autópsia da Alma", me resta a intuição deles, os livros, mais o custo avultado, aborrecidos, terem sido jogados, simplesmente, ao caixote de lixo para agradarem a tristeza, não comparecendo no número 146, 1600-772, na Estrada de Telheiras. Perderam o autógrafo, apesar do Metro de Telheiras e Carris de Lisboa, n° 767, com as estações à porta e espaços, sem conta, para as viaturas.




Embaixada de São Tomé e Príncipe
Mãe! Esterline Gonçalves Género, o embaixador, a quem eu dirigia, na manhã de segunda-feira, 16 de setembro, logo a seguir a fim de semana espetacular, para cortesia e agradecimentos devidos, fiquei "txinguilado" em 5 de Outubro, a grande avenida lisboeta, sem a pertinente bandeira das ilhas de Falcão e Papagaio à vista. Fui traído pela memória.
Ativei o GPS, tive de fazer meio giro e recuar ao beijo do hospital Curry Cabral, na rua Laura Alves, 12, 3° andar, a nova sede de São Tomé e Príncipe. Orelhas surdas, nunca ouviram que o anterior governo de António Quintas do Espírito Santo, havia trocado o endereço da capital lusófona às ilhas. No terceiro andar do edifício e pela boleia do elevador, aconselhado pela rececionista portuguesa, eu que assumi correr sério risco de bater aquela porta do digníssimo responsável, Excelência no título, fiquei altamente embriagado de alegria por três, quatro novidades, de última hora.
1ª - A embaixada dispõe de sala e acomodação, excelentes aos utentes, nada a ver com a bandeira hasteada na antiga foz do Areeiro, mais concreto, na avenida Gago Coutinho, pior aquele velhinho prédio, lá mais para o Tejo, junto a Belém, no qual fui recebido nos finais do século passado, na rua da Junqueira;
2ª - A jovem rececionista, são-tomense, ao contrário dos telefonemas que nas vésperas do lançamento, fiz para confirmar, se o convite pelo correio digital, chegou à embaixada, - apenas a gravação me deixou uns dias pendurados, em França - não só brilhou seus dentes ao forasteiro, quem não dispunha de entrevista marcada, nem crachá para o atendimento, mas de imediato, a servidora pública, acionou o telefone à secretária do embaixador e pediu que o estranho aguardasse na confortável sala, onde alguns são-tomenses, em troca de palavras, aos ouvidos, também aguardavam pela vez;
3a - A secretária, em minutos corridos, veio ter comigo e não questionou a ousadia de uma manhã de segunda-feira, pela simplicidade de rotina, sem fato, nem gravata, incomodar à sua Excelência, encaminhou a outra sala e deu-me uns cinco minutos de espera, porque o embaixador estava atarefado e sairia de imediato para uma reunião;
4ª - A entrevista com a oferta do livro, logo confiado pelo embaixador - me bateu as mãos de felicidade nas costas - à sua secretária, ocorreu da sala, vis-a-vis ao gabinete de doutor Esterline, à viatura na rua, onde após a despedida, o motorista, iniciou a corrida da diligência diplomática matinal.
Oh Mãe! Apesar de não ter sido solicitado qualquer contributo dos serviços consulares para oferecer luz das ilhas, apimentada de voz adoçante colombiana, à tarde de sábado lisboeta, as boas práticas recomendam publicitar na página especial da embaixada, a presença do embaixador, na representação do Estado são-tomense na prestativa atividade da diáspora.
Pena, carregado de compromissos na agenda, sua Excelência, ter abandonado a autópsia, enquanto o público ávido e faminto de curiosidade, leve-leve, compunha a assembleia literária.

Lançamento em direto
Mãe! Já com a idade para ter cabeça de adulto, acumulei mais dívidas para com a moldura humana, de idades e estratos sociais diferenciados, que coloriu o lançamento de "Ellyzé - Autópsia da Alma", numa tarde do final de semana, embora fossem registadas ausências de saias e "quimones" de Kuá Téla, apesar da entrevista tida no passado mês de maio, com a presidente associativa, na sede em Lisboa, em que antecipei a oferta do evento às Mulheres de São Tomé e Príncipe, através de Mén Nón, daí a realização na semana de 19 de setembro, dia que Inglaterra se apoderou eternamente do elegante corpo mestiço da finalista da London Metropolitan University que, internalizou as ilhas e, anualmente, recorda o nome da Ellyzé.
Oh Mãe! A cobertura feita pelo Programa "Nós por Lá" e pela RTP - África e, a especial colaboração, esta em direto, de Octávio Bandeira, jornalista da diáspora por Inglaterra, em momento oportuno, poderão assediar sinergias na popularização da leitura são-tomense no concerto e nas prateleiras da lusofonia.
Pena Real|Editorial
Mãe! As várias delegações envolvidas na atividade, provenientes de Inglaterra, França e Espanha, sujeitas às obrigações profissionais, somente na quinta-feira, em conta gotas, foram enchendo Lisboa. Na sexta-feira, no fecho da tarde, fizeram a exigente visita de prospeção a Lumiar, dando aval ao Auditório Orlando Ribeiro, optado através de contactos telefónicos e trocas de mensagens, entre França e Portugal, para que tudo, antecipadamente, ficasse em dia para a estreia de sábado, Dia D.
Só na noite de Sexta-feira 13, sem tempo de presença na visita de trabalho, ávido no peito e trémulo nas pestanas para um dia surreal, solitário, desembarquei na metrópole do Fado.
Oh Mãe! Os jornalistas quiseram saber para quando "Autópsia da Alma" são-tomense, em São Tomé e Príncipe?
Para o lançamento de Lisboa, bastaram as cartas digitais e os telefonemas, furando as fronteiras dos países para chegarmos na véspera e rachar o coração, no sábado. O mundo digital, as novas oportunidades de comunicação e a liberdade do pensamento, sem mil voos, funcionarão para São Tomé e Príncipe?
Qual o auditório?
A lista envolvida na luz à "Ellyzé - Autópsia da Alma", de sangue verde, é extensa e de partilha obrigatória à gratidão: Ilsy d'Alva, a diretora editorial; Hélio Bandeira, o diretor executivo; Abdelasy Sousa, o diretor Comercial & Marketing e toda a equipa da Pena Real | Editorial, a editora sediada no Reino Unido.



Crítica literária
Mãe! Coube à apresentação, respetiva crítica literária e silenciosas cantigas, estas na voz de uma colombiana, Laura Gomez, as senhoras em que eu, não hesitaria um segundo na aposta ganhadora para um governo de excelência às nossas ilhas, finalmente, identificar o rumo do desenvolvimento com as memórias do antigamente e, das mulheres e dos homens, que nos fizeram a pequena e brilhante nação africana.

Aoni d'Alva, a Mestre da Cerimónia, pediu coragem para não verter lágrimas que via escorrer pelo silêncio, forçando ao seu traje todo em branco, de cabeça aos pés, a descer plateia para se socorrer de lencinhos ao palco, como que ela representasse a Mãe Santo, do Candomblé e, involuntariamente, acordasse do sepulcro a minha avó, filha de brasileiro liberto do quilombo;

Solange Salvaterra Pinto, a única que eu conhecia, é da Trindade, garantiu ao público de que o livro é "triste e alegre e, cada palavra, uma poesia";

Claúdia Costa, quem na troca de palavras de estreia ao telefone cruzado entre Portugal, Lisboa e, França, Alpes Marítimos, despida de arrogância, aceitou o convite, me anestesiou de admiração e complexidade, ofereceu elegante dica à plateia: "o livro é enganador no pior pesadelo da parentalidade que define a perda de um filho, ser contra a ordem natural... e porque são relatos em primeira pessoa, do impacto das coisas e a real dimensão de quem emigra" para que quem decide as grandes opções políticas, económicas e sociais de São Tomé e Príncipe, não ande de costas viradas à sua diáspora, um tesouro.

Ilsy d'Alva - tivemos as reuniões de trabalho "on line", com uma única, olhos nos olhos, também pelas janelas do computador e o envolvimento dos demais colegas da Pena Real - reforçou o "estilo integrante do autor, de carga metaforica elevada", num estilo "cardosismo", para que acordasse as lágrimas do pai, sempre por perto, já que recorreu a uma "das passagens dela, (a Ellyzé) por Lisboa, trouxe um novo tema a discussão...como se fossemos detentores do cronómetro da existência, entre pai e filha, não havia "sine die", pediu-me para marcar a nossa próxima discussão, longe de imaginarmos, que aquela seria, na verdade, a nossa última conversa", sem as lágrimas teimosas no coração dos pais.

Extratos de "Autópsia"
Manuel Bernardo, o professor, poeta e escritor, exibido entre as páginas, "a cara-metade lançou poeiras abastadas de temperatura, difíceis de serem agarradas pelas mãos adversárias, sem luvas, a tentar ao máximo, o controlo emocional da ousadia..."

Dulcelene Machado, "gen di casa", responsabilizou pela língua esticada da Ellyzé: "Há intimidade entre colegas minhas que permite o corpo desfilar quase nu no espaço familiar..."

Anastácia Cunha Rodrigues, a minha colega do liceu, testemunha fiel de enquanto meninas e pares, mais traídos pela soberania das ilhas, em 1975, após as longas três décadas, mais de quatro, por aí desconhecido, só recentemente pescada nas redes sociais, assumiu o Testamento descoberto no álbum das fotografias da Ellyzé, o decisivo grito para o livro:
Testamento
"Não choro mais!
Depois de tudo que tento fazer,
Ficar longe de amar-te,
Estou de coração partido."

Foram assim, as vozes brilhantes às várias perspetivas de "Ellyzé - Autópsia da Alma". A Érica d'Alva - por lapso temporal, não subiu ao palco - tinha nas pontas da língua a outra receita do livro: "As sobrancelhas cobriram-me por completo, a testa enlutada. A mãe tinha de minorar as dores, avaliar a maquiavélica situação e reforçar a equipa de Londres, sobretudo, dar crédito maternal à tese milenar de «São Tomé, ver para crer», pertinente ato de fechar o círculo físico ao doloroso luto."

O seu filho,
José Maria Cardoso