DIA D – 14 DE SETEMBRO
Edição exclusiva
Domingo, 10 de Novembro de 2024

II - Boa-nova à minha Mãe San Mosa
Mãe! Nos expedientes de dar pontos ao imbróglio de filhos de uma mesma mulher, que na hora das formalidades para sepultar o corpo nas imediações de um século, o Estado tornou oficial a asneira, negando a morte de uma das duas senhoras, Bebiana e não, a Ambrósia, eu tive notícia de progressão processual ao bom porto.
Parece alguma ousadia de criatividade, mas não. Somos, na realidade, filhos de duas Mães, San Mosa, uma nascida em 1929 e a outra, San Mosa, em 1933. Uma mais velha, a outra mais nova. Uma a Mãe dos primeiros filhos; os do meio de outra Mãe e, no fim; os últimos voltaram a nascer da primeira. Fazendo as contas, noventa e cinco anos num corpo cansado de dores.
Oh Mãe! A enganar o tempo de espera pela justiça, no pé de “ússua” no auditório Orlando Ribeiro, em Lisboa, faltou lenço, xaile, saia e “quimone”, isto é, a blusa de estilo típico são-tomense, abas largas, coube à mim o devido reconhecimento aos pavilhões seduzidos pela Autópsia da Alma.
Alberto Camblé Pinto
Mãe! Não quis acreditar na especial presença, vinda desde São Tomé e Príncipe, golpeando os planos de sábado lisboeta para dar um abraço à Trindade, no primeiro dia da nova vida do seu filho.
Com a cabeça partida, enquanto a plateia compunha-se, remeti-me a vasculhar o tempo na satélite da primária dona Berta Craveiro Lopes, lá no pavilhão do mercado assistido pelos ouvidos das “palaiês” que espreitavam a aprendizagem de gaiatos.
Foi com o mais arrojado entusiasmo que na singela homenagem de duas gerações, a correr mundo, que quebrei o segredo, guardado a sete chaves. Palavras soltas, desceram à plateia, num forte abraço ao Senhor Professor Alberto Camblé Pinto, confiando-lhe na presença dos filhos boquiabertos, a Solange e o Luisélio, sem palavras, o exemplar de Ellyzé – Autópsia da Alma, como não haveria de falhar, com o mestre, sorrateiramente, camuflado entre as páginas.
Venho pintando desenhos, sem sentido, para que um dia, de férias nas ilhas, juntássemos Trindade, isto é, os miúdos do pavilhão do mercado municipal para homenagearmos o “sôssôr” de primeira classe. Seria obra merecida ao engenheiro que nos partiu cabeça, introduzindo o caminho a desbravarmos pelo mundo afora.
Oh Mãe! Tenho feito e desfeito a lista, apenas de rapazes – o estado português não misturava traquinices de miúdas e miúdos de primária na mesma sala - escavando da memória os nomes de Eduardo, Idalécio, Pascoal, Octávio, Braúlio, Anastácio, Alexandre, Arlindo, Júlio, Acácio, José, Carlos (o filho do policial da GNR), Armando e Armandinho, os gémeos de Ribeiro (o português comerciante e antigo proprietário da loja e do restaurante que veio a ser prédio do Banco Central e discoteca Club 35) e tantos outros fugidos por agora; mas idas às ilhas, - agora mais comprometidas com a taxa de 220€00 (duzentos e vinte euros) ao Estado - têm sido um corre-corre familiar, sem tempo para mim e minhas coisas.
A merecedora de um momento similar, a nossa professora de segunda à 4ª classe, a portuguesa, meiga e baixinha, dona Adelaide Raposo, assim como os colegas, evaporaram-se pela Revolução de Cravos ou antes de 25 de Abril, sem até então, nem o Facebook, facilitar-me algum rasto dos portugueses do início dos anos setenta do século passado.

Laura, o som colombiano no crioulo de São Tomé
Mãe! Uma colega do tempo de miúdos do liceu, o antigo centro de código dos conhecimentos, recentemente doado à professora Marina, na prestativa das redes sociais, após mais de três décadas, sem sabermos do paradeiro de cada um, eu e ela, finalmente, fomos pescados pelas amizades digitais. A Anastácia Cunha Rodrigues que me vem refrescando de adolescência, hoje, de rapazes e meninas de barbas e cabelos esbranquiçados, alguns donos de netos e bisnetos, foi mais ousada.
Lançou desafio pertinente à Autópsia da Alma: - “Depois de ler o livro e nele, um pé de dança às canções com que fizeram consolo à tua escrita de nostalgia, dor, desabafo e criatividade, falta algo para o dia de lançamento. Tenho uma amiga que canta e encanta o crioulo forro e, certo, não vai recusar a presença, em Lisboa. Ela vive lá, em França.”
Corri atrás da cantora colombiana, a Laura Gomez, assinamos o contrato digital e ela deixou-nos todos, o palco e a plateia, inclusive os jornalistas e repórteres, simplesmente, a babarmos em pé de dança nos ouvidos pela melodia são-tomense embriagada de sotaque espanhol.

Octávio Bandeira
Mãe! O Octávio Bandeira, jornalista da diáspora são-tomense, em Inglaterra, tomou a iniciativa de correr mundo, em direto, com o lançamento do livro. Ele, eventualmente, foi arrastado pelo ventre da minha Mãe que teve o seu primogénito, em Almeirim.
Talvez os pais dele, saibam que “san” Paulina, amarrou com a corda de aço e até ao fim da vida, a relação com nora da Trindade, a ponto de adotarmos a idosa, a nossa avó de Almeirim, o sítio adoçante que no caminho para preparatória ou vice-versa, haviam dias, em que eu fazia desvio e “saltava” o rio Água Grande para adoçar a língua com as tangerinas de mel e a Água-Flêbê que ia apanhar no “vargi”.
Deverá ser Bandeira, o responsável do meu telemóvel, ao longo da cerimónia ter beneficiado de sinais de quem procurava pelo seu filho, enquanto a RTP-África e o “Nós por Lá”, também cobriram espetacularidade ao sábado, 14 de setembro e, convidaram o seu filho a tecer considerações da ousadia da “Autópsia da Alma”, no final da tarde, a dois passos de Campo Grande, no Lumiar.

Jerónimo Moniz e Nilton Medeiros
Mãe! O programa “Nós por Lá” – Magazine dos são-tomenses na Diáspora, para lá de rotina desportiva, musical, académica, cultural e religiosa dos nossos Deuses, padroeiro por padroeiro, com que corre o mundo dos são-tomenses por além fronteiras, não ficou de fora do palco memorial da sua neta, a Ellyzé.
As câmaras de Nilton Medeiros e caneta de Jerónimo Moniz, compareceram ativas e apontadas às celebridades do governo literário e à plateia curiosa, na colaboração prestativa à TVS, Televisão São-tomense.
Sem que imaginasse, das ilhas do Equador, aquelas maravilhas inocentes, aos estragos políticos, jurídicos e económicos, no desmoronamento social – aqui não se fala política -, chegaram telefonemas de que, após décadas de um desaparecido, presumivelmente morto no combate, viram-me novo de barba e cabelos esbranquiçados pelo frio e neve dos Alpes Marítimos franceses.
Foi na última quarta-feira de setembro, em São Tomé e Príncipe, “Nós por Lá”, Programa 329º, diferente e espetacular, consagrando à literatura no trajeto de Ellyzé – Autópsia da Alma, partilhou mais um momento único das ilhas, especialmente por Portugal, França e Inglaterra.

Neusa Sousa
Mãe! A jornalista Neusa Sousa e Pedro Silva, corro sério risco no nome do repórter da imagem, cobriram a atividade e degustaram das palavras do pai perdido em França, longe de Inglaterra da vida da filha-mulher, barrada aos vinte e seis anos de idade.
Segundo período de um sábado não impediu a RTP África em mexer a agenda de fim de semana da jornalista e do repórter de imagem apostarem na, eventual, honestidade espiritual, intelectual e mental da Ellyzé – Autópsia da Alma.
Oh Mãe!
Ainda não tive acesso ao Bem-Vindo da RTP África. Vi-me forçado a assédio no quintal da vizinha.
Que pena, as ausências!

Do seu filho,
José Maria Cardoso