RIQUEZA DE POBRE
Edição Exclusiva
Domingo, 7 de Abril de 2024

«Vungu» à minha Mãe San Mosa
Mãe! Nóvito, Afonsina; Beatriz; Ani-Mosa (Ambrósia); Bebiano e Bebiana (Ani-Mosa). Lavalino. Vasco; Diana; Fineza e Panyny. Desta lista nominal, as meninas rubricaram páginas «dinen san soba di tchindadji», portanto, poderosas, as valentes rainhas da vila. Sem dúvidas, meninas e rapazes, foram todos produtos provenientes das barrigas que o teu pai deu nas mulheres dele, na Trindade. Outros rebentos, os anjos de Deus, espalharam-se por “tchilôli” Formiguinha, de Boa Morte, “bulawé”, de Ponte Graça ou outro pé familiar, em Água Arroz. Rangela; Vino; Flychy; Sévé e Dias.
Oh Mãe! Caso as tuas sobrinhas não exageram no açúcar do café da manhã, o teu pai Ambrósio não brincou, nem um pouco, em serviço. Dezasseis filhos!
Ainda assim, o número - 16 - é evidência dele ter ficado a léguas da distância de alguns da época que deram dezenas de barriga nas mulheres.
O professor Manuel da Trindade Sousa Pontes, mestre de ilustres gerações, o atual patronato da minha primeira escola, a antiga primária Berta Craveiro Lopes, é o cartaz lendário que mal incomodou nossa vila. Pelo contrário, ele dedicou-se, significativamente, ao esforço do Estado colonial no povoamento das ilhas com perto de quatro dezenas de filhos, incluindo os teus anjos, confiados prematuramente ao Céu, o pioneiro Horácio e a Arlete. A propósito. Além da Avó San Tilha, quem foram as outras mulheres que, traindo pureza feminina, abriram pernas ao teu pai, permitindo-lhe atiçar fogo nos lábios e nas chuchas das negras daquele tempo para a generosa colaboração demográfica das ilhas, lá no início do século XX?
Hum! Não é de embarcar a narrativa familiar pelos itinerários tortos, de malcriadez ou desfaçatez do teu filho.
Por cá, «plé-mundu», a terra distante, vai tornando imposição dos écrans, as mulheres não perderem pureza feminina.
Amor selvagem
Mãe! Mulheres felizes dormem e casam com as mulheres e, homens, na vigia do mesmo prazer, dormem e casam com os homens, enquanto a sociedade critica o eleito presidente senegalês, Bassirou Diomaye Faye, de 44 anos, fé muçulmana e senhorio de duas primeiras-damas no palácio em Dakar.
«Pouca vergonha!»
Personalidades de gabarito insuspeito, políticos; artistas; desportistas; apresentadores e, não só, nos países civilizados, europeus, vão sendo acusados pelas mulheres violadas sexualmente por eles, homens de gravata, que abusando da proximidade laboral, fizeram delas presas fáceis do amor selvagem.
Oh Mãe! Sabias? Então!?
Caixeiro-viajante-do-mar
Mãe! Por vezes, no esforço do confronto ousado, a par da dedicação de vasculhar uma Mãe para mim, o português foge um pouco das boas práticas da língua - faz algumas cócegas - mas nada que retira ao teu filho, o que dele, apesar de cobiça alheia, ninguém consegue desperdiçar, o rapaz bem comportado que nem o padre.
Quem vai gabar ao teu filho?
Oh Mãe! O Vasco, se fosse vivo, eu cairia na tentação de levar o teu irmão a subir os degraus do tribunal, reabilitado, após arquivos e povo andarem por aí, a correr pela cidade, a Deus dará, para pôr ponto final, o crime do Estado conceder-me e parte dos meus irmãos, duas Mães, ou talvez, nenhuma.
E que convenceste doutrina aos filhos de que «Deus seu mundo fez, de uma só vez!»
Bate certo. Esse teu irmão, se não existe um outro desconhecido das tuas sobrinhas, teve um ofício, talvez, muito adiantado no tempo ou esquisito, mesmo para os dias de hoje. Ele foi caixeiro-viajante-do-amor. Que é isso!?
O empresário andava o país, de ponta-a-ponta, ganhando a vida na conquista de moças urbanas que levava a tapar prazer aos roceiros portugueses com as respetivas esposas trancadas na metrópole ou contagiados pelo cheiro exótico e bico em pé dos seios das jovens africanas.
Nesse pé de vento e por várias tentativas feitas, eu não consegui descobrir o nome de um outro teu irmão, a figura central de desfazer o imbróglio da Bebiana ou Ambrósia, ter sido a minha Mãe San Animosa. Então!? Só pode ser esse aí, o Vasco, falecido de doença maligna, nos anos quarenta ou cinquenta do século XX, pelo que os familiares desfizeram de todos os pertences do malogrado.
Árvore Genética
Mãe! Estranha-me nenhuma das tuas sobrinhas, ter a mínima noção do mestiço, só podia ser filho de um português, a quem pela elegância ou qualquer outra preciosidade, os teus irmãos deram nomes aos filhos. Sou mesmo forçado a correr atrás do Estado, lá nos recônditos, na possibilidade de sermos - sem saber - herdeiros de qualquer palácio ou palacete, em Portugal, o produto das mãos de obras escravas das plantações de cacau e café que sucederam à primeira riqueza de São Tomé, o açúcar da cana. Ou será que o teu pai congelado de uns copos de excessiva água na cabeça, perdeu toda fazenda?
Oh Mãe! O tempo passa e não sossega, nem um só minuto aos afazeres, sem programação, comigo atrás de quem foi, na verdade, a minha Mãe, Ambrósia ou Bebiana, uma delas, ou talvez, as duas falecidas no passado dia 7 de Janeiro, com 91 e 94 anos, respetivos. Nesse período, três meses, desde a tua partida à eternidade, como eu havia narrado numa das cantigas, arranquei das tuas sobrinhas, as da Trindade, uma lista nominal da qual desconhecia um ou outro nome familiar dos teus irmãos.
Dá a impressão que o teu pai, foi um "tipo" especial que para lá de várias mães-de-filhos ou tendo falecido, talvez muito jovem - na realidade, nenhuma das netas guarda o seu rosto, nem fotografia - não somente, a minha avó San Tilha apoderou do seu nome à filha Ambrósia.
Os teus irmãos, também deram nomes de Ambrósio aos filhos. Quem foram os pais do teu pai?
Mãe! Vou mesmo publicitar num site, a Árvore Genética, ou seja, a partir da raiz no teu pai e nas respetivas mães de filhos, assim como uma planta estendendo os seus ramos, hei-de na medida do possível, passar revista nos filhos, netos, bisnetos e aí, por fora, do senhor Ambrósio do Espírito Santo para evitar que a gente, os netos, loucos de amor, não de barriga nas netas ou bisnetas da cidade do meu avô. Como não!?
No liceu, conheci o professor das Belas Artes, mas só bisbilhotando as conversas dos filhos, a San Mosa introduziu lápis, régua, esquadro, borracha e compasso no desenho:
- Penetra, esse rapaz professor, é meu sobrinho! Ele não me vê na cidade, sem abraçar e dar beijinhos «un cara da tia».
Herdeiros dos filhos de Ambrósio do Espírito Santo
San Animosa (Ambrósia ou Bebiana):
Batista, Joaquim, Raul, os gémeos Zé Maria e Maria Zé, Horácio e Arlete.
Sô Nóvito (André): Ambrósio, Conceição, Gaudência (?) e a mãe do Alexandrino de Obolongo.
San Afonsina (Maria Soares): Maria e Ambrósio.
San Biá (Catarina) - Leonel "Bumbo", Carmen, Eugénio, José, Deolinda,
Amilcar e Olinto.
San Panyny(Ana): Dulce, Fernando, Zebelina, as gémeas Natália e Natércia, Aninhas e Upe.
San Fineza (Zebelina): Zebelina (?)
San Diana (?): Albertina
Sô Vasco (?): Gaudência (?)
Sô Lavalino (?): Beatriz e Gaudência (?)
San Rangela (Maria Nazaré): Firmina, Esperança, os Penetra, um deles
Ambrósio...
San Flychy (Feliciana): Adálio, Olívia, Hilário e António.
Sô Sévé (?) - Paulina e Ambrósio.
Sô Vino (?): Horácio, Antónia, João, Lourença...
Sô Dias (?):
Gaudência, a barriga de três irmãos
Mãe! Há um caso insólito com uma das tuas sobrinhas, a saudosa Gaudência, de Uba Flor, que foi a esposa do senhor João e a mãe do Déo da padaria e Mariete. Esta aí, a Mariete, desconhecida do teu filho. Apenas na recolha de informações para avançar à Planta Genética, facultaram-me que a Gaudência, afinal, era mãe de um casal de filhos.
Jamais havia caído nas minhas orelhas.
Como "gen" não deu barriga nas primas?
Não está sendo possível chegar ao verdadeiro pai da Gaudência, a irmã de san Manda.
Sendo irmãs de pais diferentes, elas só eram duas? Como foi possível a Gaudência ter sido filha de Vasco, Lavalino e Nóvito, os três irmãos, em simultâneo?
Oh Mãe! Antes de eu criar o site da Árvore Genética - os médicos, muitas vezes, precisam dela para chegarem aos prognósticos de salvar pacientes - para o preenchimento de familiares e, não só, era bom que para lá das sobrinhas da Trindade, eu esclarecess esse imbróglio, através dos teus sobrinhos da capital, especialmente em Boa Morte e Ponte Graça, atualmente, espalhados pelo mundo. Quem foi o pai da Gaudência? Vasco, Lavalino ou Nóvito?
«Toda família rica, tem um filho pobre»
Mãe! Com todo o rigor da educação de guerreira e solitária que desafiavas ouvidos à vila, «nenhuma Mãe deve introduzir dedos un fogo na defesa dos filhos», é mesmo a mais pura das verdades. Há um episódio, triste, comigo mais tarde, pasmo perante à traquinice de meninos da preparatória por detrás de doentes mentais da cidade. Não sei como me atrevi à «colombeia», ou seja, eu fui atrás de mau caminho dos colegas.
Numa das tardes, após o regresso da escola para arrefecer os pés assados no alcatrão da cidade à vila, ingénuo, eu narrava aos meus irmãos das macaquices por detrás de um dos dementes da capital, São Tomé. Não era o Cinco; a Kumadê; a Péri de Santana; o Juven, este sempre ataviado e atrás do África Negra, de João Seria e os outros indivíduos à margem da sociedade, mesmo tendo a cabeça no lugar, dava-nos prazer de zombaria, à semelhança do Daymone. Já dei ênfase a isso, algures.
O moçambicano jogado nas ilhas, trabalhador da salubridade pública, esvaziava todo lixo à cidade e a par dos colegas noturnos, eles lavavam a misteriosa menina para que ela, naquela época e no meio do mundo, despertasse todos os dias, fresca, limpa, linda e vaidosa. Eu não tinha a mínima noção de brincadeira feia e mentiras da democracia.
Oh Mãe! O Horácio, «Pisa-Minato», embora descalço, de farrapo e deambulando pela capital, sem que eu imaginasse, era um demente diferente dos demais. A conversa de putos desembocada nos teus pavilhões, não era de especular, em que camisa de onze-varas, eu tinha introduzido barriga ao pescoço. Contrariamente aos políticos que "banam-orelhas", ou seja, são surdos ao sofrimento do povo, eu na época, garoto da preparatória, cresci sem jamais zombar a qualquer que fosse paciente físico ou psíquico.
Apenas os que têm a cabeça bem alta nos degraus do Estado, eu ralho, devido maus-tratos ao povo e nem entendo a cólera deles me levarem a mal, cortarem-me os olhos, praguejarem e desejarem a mim e uns ativistas sociais, a morte. Ainda tivestes olhos e consciência de ver as chefias militares assassinarem quatro civis na parada do exército?
Coisa impensável!
Mãe! Jamais petisquei do país que eles rasgam todas as páginas do futuro que nós, miúdos na época da euforia soberana, sem lágrimas, tínhamos sonhado ou ensinaram-nos tudo de bom a dar no presente ao sorriso do povo.
A história é outra. San Mosa, naquela tarde, em ira e sem soltar um dos meus ouvidos, bem ardentes, ofereceu-me refresco dos seus dedos de mãos e em alta voz, desatou-se a pôr ordem no deslize do filho, ao ponto de doer-me o coração.
- Horácio!? En! Esse rapaz que anda atrás de mula? Você provoca ele?
Ela não soltava uma das minhas orelhas, por mais que as dores desatavam lágrimas aos olhos, fazendo-me crescer, tornar homem, mas com duas palavras a ecoar até no país estrangeiro: «Nunca mais!».
- Horácio, é filho do teu tio Vino que como a vossa tia Rangela, vem à vila festejar connosco Deus Pai e Nossa Senhora de Nazaré. Você nunca mais provoca ele! Nunca mais!
Minha Mãe San Animosa. Descanse em Paz Eterna!
Do teu filho,
José Maria Cardoso